segunda-feira, 3 de março de 2014

(Des)crente nos rabiscos do amor

Porque não acreditas quando repito à exaustão
Que te conheço como a palma destas que te escrevem
Que te sei de cor, mesmo de olhos fechados
E sem nunca os ter pousado em ti?

Porque duvidas que a minha imaginação
preenche sem duvidar os espaços em branco que a realidade
teima em ocultar-me
e que o amor é um artista de excepção a fazer auto-retratos?
Sim, porque quando te desenha esboça-me a mim também,
que já sou tu
e não consigo ser eu no espaço em branco sem nós.

O meu coração sabe quem tu és e não precisa de retratos-robô
para identificar o sicário que o feriu de morte...
I know you by heart
Je te connais par coeur
Forçosamente.

Como Anaïs...

Sabes que te amo, meu amor
de manhã até à noite e nunca me deito cansada?

Sabes que te acaricio as mãos e as seguro como se pudesse prender-te no nosso leito
até depois da eternidade?
E te abraço por trás quando tentas levantar-te,
como se pudesse olhar-te de frente?

Sabes que te amo mais a cada minuto deste dia
e descubro sempre novas formas de te amar
de cada vez que me precipitas um pouco mais além de ti,
Meu amor...

Como os meus lábios beijam os teus olhos fechados
como se fechados pudessem ver
como te quero.
Sabes?


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Muito, meu Amor

Eu sou o que tu quiseres. Queres? Quando quiseres, não queres? Quando me encontraste, já não sabias o que procuravas? Só de longe o soubeste, e agora esqueceste? Não fomos feito para o amor, acrescentas agora? O que não quer dizer que não possamos amar-nos sempre outra vez, e pode ser mesmo a única coisa digna que nos resta? Não foi para isso que fomos feitos, então? Não fomos feitos para o que quer que seja, nascemos, crescemos, envelhecemos, morremos e é tudo, e é mais do que o suficiente? Interessa o quê, o que é que interessa, diz-me, quando o barco começa a naufragar? A atitude dos passageiros? Se começam a cantar ou a chorar, ou simplesmente continuam a fazer o que estavam a fazer? Saber que o barco vai naufragar e continuar? O que interessa é a atitude, insistes, mais não podemos? Não podemos fazer nada mas podemos mudar tudo, é isto que queres dizer? Começar por nós, terminar em nós? Mudar-me a mim e mudar o mundo, como é isso? Começar por mim e acabar em mim e mudar tudo à minha volta, como assim? Se já reparei? Que ao tornar-me melhor o mundo fica melhor? E ainda me pedes que não tenha medo e deixe de esperar o impossível? Que o barco pelo qual espero para me levar daqui para fora não vai chegar nunca? Que o barco por que espero é o barco em que vou? Quando partiu esse barco, gostava eu de saber? Há muito? Antes de mim? Mesmo sem mim? E vai naufragar, de qualquer modo vai naufragar? E que todos os que passaram aqui o souberam, e mesmo assim isso não impediu de fazer o que tinham a fazer? Que não sou só eu? Que uma corrente nos leva? Uma corrente de palavras? Uma corrente de amor? Passar o que por nós passa, que o que passa nem é meu, nem teu, nem nosso, nem as palavras, nem o amor? Passar isso o melhor que possa, e mais nada senão isso? Queres que me cale?
Pedro Paixão in Muito, Meu Amor