quinta-feira, 31 de julho de 2008

Eu e ela e mais ninguém

Eras a paixão desenfreada, tumultuosa, alimentada a emoções.
Tinhas a ousadia que a juventude te permitia e querias sempre realizar os idílicos sonhos de amor.
Não permitias que te dissessem o que fazer, como viver, mas seguias conselhos amigos e davas ouvidos a quem já vivia há mais tempo do que tu.
Cruzavas os dias com a incerteza do futuro, mas sabias o que querias e por quem valia a pena lutar.
Amavas um filho-príncipe de amor arrebatado, que te fazia sentir mais viva do que os pássaros do sul.
Versavas os mais díspares poetas e discutias filosofia com quem te quisesse acompanhar.
E eu ficava simplesmente a olhar-te, incrédula perante tamanha determinação, fascinada pela ânsia de aprender que revelavas.
Foste embora e eu fiquei sem uma ligação etérea, difusa e descontínua, mas a que já me tinha habituado.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Consequência

Farinha faz pão
Remendo faz dó
Preguiça faz malandro
Cobiça faz invejoso
Terra faz agricultor
Poeta faz versos
Protagonista faz filme
Sorriso faz comichão
Beijo faz corar
Amigo faz falta
Pedra faz mossa
Sapato faz calo
Amor faz fogo
Paixão faz tempestade
Febre faz delírio
Ausência faz saudade
Consequência faz inevitabilidade

terça-feira, 22 de julho de 2008

Protagonista

Coloca-me no teu mundo, faz-me personagem da tua história,
com direito a camarote, honrarias e mordomias.
Proprietária do teu coração, princesa no teu castelo,
mãe dos teus filhos e filhas, gerente dos teus sentimentos,
presente em todos os momentos!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sem efeito

Entrei apressada, perguntei onde era.
Responderam-me secamente "dois andares acima, terceira porta à esquerda".
Subi as escadas, encontrei as portas e contei uma, duas, três - Toc, Toc!
Ah, olá! Seja bem vinda!
Ufa, pensei! Enfim, alguém simpático. Quando nos sentámos para conversar percebi que a simpatia não era demasiada.
Pôs-me ao corrente da situação, explicou-me cada detalhe, cada pormenor, por mais insignificante que pudesse parecer.
Então reconsiderei. Desci as escadas e disse "Eu há pouco perguntei onde era... Só para dizer que ficou sem efeito!"

Profeta

Fiz tudo para conhecer
Subi montanhas para perceber
Mantive prisioneira a minha razão
Dei asas soltas à nobre paixão

E agora que encontrei
Não sei se fique ou regresse
A um tempo sem igual
Ao passado boreal

terça-feira, 8 de julho de 2008

Delírio

Quem sonhou hoje de manhã tão baixinho?
Quem trouxe o mar, a brisa e a areia para os pés da cama?
Quem contou nuvens e subiu estrelas para adormecer?
Quem fez da vida uma paleta de sorrisos e pintou a morte em tons pastel?
Foi o poeta, o sofredor, o amante abandonado no leito da sedução?
Delírio febril de passagem, recta junção de dois mundos, nunca antes procurados,
nunca tidos nem achados.