sábado, 13 de março de 2021
Almirante
Chegaste e não bateste à porta.
Já estavas cá dentro.
Tinha uma impressão vaga, mas bonita de ti.
E não deixaste que o tempo a estragasse.
Fui vendo desenhar-se, num espanto comovido, o que há quase vinte anos não vira totalmente.
Vinhas com ar de mar, de gaivotas e de temporal, qual peixe de água fria.
Mas trazias na mão todo o carinho de uma vida, envolto numa sapiência tão doce e firme.
O pior, de tão incrível, era o teu olhar, que me dilacerava e deixava ver fundo, tão fundo como os teus olhos que, ao verem-me, marejaram.
E entraste pela porta da frente, em plena pandemia, qual vírus do amor, para me fazer navegar no desconhecido apetecível, no confinamento da alma, no delírio febril e doce da paixão.
Ai se eles soubessem, fugiam da vacina!
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