domingo, 4 de fevereiro de 2007

Trás-os-Montes

À lareira assam-se castanhas, põe-se a conversa em dia.
O tempo demora a passar, numa cadência irregular e já tão desusada.
As pessoas são simples, mostram o que têm e dão o que podem,
que é sempre muito.
Pouco esperam da vida ou lhe exigem.
Já não se zangam com o mundo quando o tempo, cruel, lhes estraga a colheita.
Têm maleitas, dores, filhos, ansiedades, mas cruzam os dias sem nunca baixar a cabeça.
Atiram-se ao trabalho como lobos ferozes às suas presas,
mesmo sem saber de que lhes vale tanto sacrifício.
Ajudam-se quando a dificuldade aperta, desde que se conhecem.
Vão ao café, à missa, jogam as cartas, coram as roupas ao sol.
Fazem renda, juntam-se às tardes quando pouco há para fazer.
Comem o pão que amassam, cozinham as batatas que cultivam,
bebem o vinho que produzem e oferecem o fumeiro que enchem.
Nunca se esquecem de nós, lá ou cá, novos ou velhos.
Guardam-nos na lembrança e rezam para que nenhum mal nos apoquente.
Sem eles somos vazios e sabemos que, mude o mundo o que mudar,
faça Deus o que quiser, vão estar sempre à nossa espera com um sorriso nos lábios, com um abraço sentido guardado para a despedida.

1 comentário:

Joana disse...

Nem eu, 100% trasmontana, diria melhor. É uma bela "fotografia" da minha (e tua) terra. :)