Andavam a vida e a morte às turras, à cabeçada
Uma queria ceifar vidas, a outra não queria nada!
Achavam-se no direito de fazer tal empreitada
Uma porque era a vida, a outra porque gostava!
Teimaram tanto que, até, os anjos e o diabo
Faziam apostas à fé e ninguém estava calado!
Essa agora, pois então, disse uma incomodada
Eu cá sou bicho papão e não temo mesmo nada!
Eu também já nada temo e não sou bicho papão
Sou a vida, pois então, e sigo na empreitada!
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
AVISO
A gerência planetária faz circular o seguinte aviso:
É PROIBIDO SER FELIZ DURANTE A VIDA, OU EM QUALQUER UM DOS SEUS LIMITES CONHECIDOS!
Os infractores incorrem numa pena que pode ir de passar alguns dia na praia a tomar banhos de mar e adormecer ao pôr do sol, até encontrar a pessoa certa e passar com ela o resto da vida!
Todos os seus sonhos podem ainda ser apreendidos!
NOTA: Importante salientar que comportamentos e gestos que indiciem felicidade são contagiantes e indutores de atitudes positivas, o que em nada facilita a nossa passagem por este mundo cruel!
A gerência agradece!
É PROIBIDO SER FELIZ DURANTE A VIDA, OU EM QUALQUER UM DOS SEUS LIMITES CONHECIDOS!
Os infractores incorrem numa pena que pode ir de passar alguns dia na praia a tomar banhos de mar e adormecer ao pôr do sol, até encontrar a pessoa certa e passar com ela o resto da vida!
Todos os seus sonhos podem ainda ser apreendidos!
NOTA: Importante salientar que comportamentos e gestos que indiciem felicidade são contagiantes e indutores de atitudes positivas, o que em nada facilita a nossa passagem por este mundo cruel!
A gerência agradece!
Sim! (uma história inacabada)
Não! - Disse ele.
Não, não quero! - Insistiu.
Porquê?- Disse eu, perplexa.
Porque não! - Afirmou peremptório.
Porque não?! - Continuei, não conseguindo aceitar de ânimo leve.
E repetia para mim que homem é bicho complexo, e nem sequer tem muito para perceber (como nós, suas "idênticas"), mas talvez por isso mesmo seja tão difícil decifrar o que lhe vai na alma (e todos os que não tiverem percebido isto, podem parar de ler, que eu não vou explicar!).
Mas afinal, porquê?! Isso é resposta infantil!
Não, porque simplesmente não quero! - Continuava.
E porque é que não queres, posso saber? - Insistia eu, já à beira da raiva.
Porque não me podes obrigar a fazê-lo!
Eu também não quero que te sintas obrigado, mas explica-me porquê! Preciso de saber...
E não te basta saber que eu não quero e não o vou fazer?!
E repetia para ele mesmo que mulher é bicho complexo, e nem sequer tem muito para perceber (como eles, seus "idênticos"), mas talvez por isso mesmo seja tão difícil decifrar o que lhe vai na alma (e todas as que não tiverem percebido isto, podem parar de ler, que ele não vai explicar!).
Sim! - Tentei eu - Vais! Porque eu quero e não se fala mais nisso!
Não!
Sim!
Não, já disse!
Sim! - repeti...
(eu avisei que a história estava inacabada... Não acreditaram, foi?)
Não, não quero! - Insistiu.
Porquê?- Disse eu, perplexa.
Porque não! - Afirmou peremptório.
Porque não?! - Continuei, não conseguindo aceitar de ânimo leve.
E repetia para mim que homem é bicho complexo, e nem sequer tem muito para perceber (como nós, suas "idênticas"), mas talvez por isso mesmo seja tão difícil decifrar o que lhe vai na alma (e todos os que não tiverem percebido isto, podem parar de ler, que eu não vou explicar!).
Mas afinal, porquê?! Isso é resposta infantil!
Não, porque simplesmente não quero! - Continuava.
E porque é que não queres, posso saber? - Insistia eu, já à beira da raiva.
Porque não me podes obrigar a fazê-lo!
Eu também não quero que te sintas obrigado, mas explica-me porquê! Preciso de saber...
E não te basta saber que eu não quero e não o vou fazer?!
E repetia para ele mesmo que mulher é bicho complexo, e nem sequer tem muito para perceber (como eles, seus "idênticos"), mas talvez por isso mesmo seja tão difícil decifrar o que lhe vai na alma (e todas as que não tiverem percebido isto, podem parar de ler, que ele não vai explicar!).
Sim! - Tentei eu - Vais! Porque eu quero e não se fala mais nisso!
Não!
Sim!
Não, já disse!
Sim! - repeti...
(eu avisei que a história estava inacabada... Não acreditaram, foi?)
Cotidiano*
"Todo o dia ela faz tudo sempre igual
E se acorda às seis horas da manhã
E sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo o dia ela diz que é pra'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda a mulher
Diz que está me esperando prá jantar
E me beija com a boca de café!
Todo o dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão!
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda a noite ela diz pra'eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta até eu quase sufocar
E me beija com a boca de pavor.
Todo o dia ela faz tudo sempre igual..."
* Música de Chico Buarque
E se acorda às seis horas da manhã
E sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo o dia ela diz que é pra'eu me cuidar
E essas coisas que diz toda a mulher
Diz que está me esperando prá jantar
E me beija com a boca de café!
Todo o dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão!
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda a noite ela diz pra'eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta até eu quase sufocar
E me beija com a boca de pavor.
Todo o dia ela faz tudo sempre igual..."
* Música de Chico Buarque
Samba sobre o infinito*
"Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco a dor no peito
Não diga nada sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito"
(o samba que eu gostava de ter escrito)
* um original de Paulinho da Viola, que dá pelo nome de "Para ver as meninas", cantado por Marisa Monte
Enquanto esqueço um pouco a dor no peito
Não diga nada sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito"
(o samba que eu gostava de ter escrito)
* um original de Paulinho da Viola, que dá pelo nome de "Para ver as meninas", cantado por Marisa Monte
Oxalá!
Oxalá o tempo passe
Oxalá a manhã chegue
Oxalá eu não te esqueça
e nunca perca a cabeça!
Oxalá tu me arrebates quando,
quase sem contar,
te veja pela janela e nem consiga falar!
Oxalá o mundo mude
para eu atravessar
o globo que é tão imenso
e eu sonho em palmilhar!
Oxalá tu possas ler
o que escrevo sem pensar,
Oxalá tu possas ver o que te quero mostrar!
Oxalá calei então,
Oxalá pois que chegou
vem do árabe sultão
e entre nós se quedou!
Oxalá a manhã chegue
Oxalá eu não te esqueça
e nunca perca a cabeça!
Oxalá tu me arrebates quando,
quase sem contar,
te veja pela janela e nem consiga falar!
Oxalá o mundo mude
para eu atravessar
o globo que é tão imenso
e eu sonho em palmilhar!
Oxalá tu possas ler
o que escrevo sem pensar,
Oxalá tu possas ver o que te quero mostrar!
Oxalá calei então,
Oxalá pois que chegou
vem do árabe sultão
e entre nós se quedou!
segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
À chuva
À chuva fazem-se planos
Estendem-se os melhores panos
A executar e a corar.
À chuva passam-se os dias
Cantam alto cotovias
Sofrem muitos com os dias
Em que ela teima em cantar.
Cai dos céus aos trambolhões
Causa dias cinzentões
Ameaça depressões
É o pior dos papões
para quem quer passear.
A chuva, já ouvi dizer
É tudo o que nos faz querer
Abrir as portas ao Sol
Lavar a roupa num rol
E nunca mais apanhar
Com os dias de "garoua"
Quando uma tarde boa
Se avizinha a espreitar!
Estendem-se os melhores panos
A executar e a corar.
À chuva passam-se os dias
Cantam alto cotovias
Sofrem muitos com os dias
Em que ela teima em cantar.
Cai dos céus aos trambolhões
Causa dias cinzentões
Ameaça depressões
É o pior dos papões
para quem quer passear.
A chuva, já ouvi dizer
É tudo o que nos faz querer
Abrir as portas ao Sol
Lavar a roupa num rol
E nunca mais apanhar
Com os dias de "garoua"
Quando uma tarde boa
Se avizinha a espreitar!
Amódio e Odor
Odeio-te!
Odeio-te tanto quanto a paixão pode permitir!
E olha que não é pouco...
Então porque te amo, tanto quanto o ódio pode permitir?!
E olha que é mesmo muito...
Odeio-te tanto quanto a paixão pode permitir!
E olha que não é pouco...
Então porque te amo, tanto quanto o ódio pode permitir?!
E olha que é mesmo muito...
Para quando?
Queria adormecer e esquecer que fui tua.
Gostava de esquecer o teu sorriso, pôr para trás o teu toque, não lembrar o teu cheiro e o molhado do teu beijo.
Queria libertar-me da lembrança que tu és no meu dia.
Às vezes esqueço-me de de te esquecer e perco a noite a pensar no que fomos.
Às vezes lembro-me de lembrar o bom de tudo o que fizémos e pergunto "Para quando? Para quando o esquecimento, para quando o abandono desta agridoce lembrança? Para quando o dormir e acordar sem pensar, sem desejar, sem chorar?"
Para quando me esquecer de me esquecer de ti...
Gostava de esquecer o teu sorriso, pôr para trás o teu toque, não lembrar o teu cheiro e o molhado do teu beijo.
Queria libertar-me da lembrança que tu és no meu dia.
Às vezes esqueço-me de de te esquecer e perco a noite a pensar no que fomos.
Às vezes lembro-me de lembrar o bom de tudo o que fizémos e pergunto "Para quando? Para quando o esquecimento, para quando o abandono desta agridoce lembrança? Para quando o dormir e acordar sem pensar, sem desejar, sem chorar?"
Para quando me esquecer de me esquecer de ti...
E se fossemos todos assim?
Feitos de matéria de ar? A suprema aberração inquestionánel da natureza?
E se fossemos todos assim? Todos livres, todos iguais ?
E se todos quisessemos mais, por sabermos que todos poderíamos ter?
Então não haveria desigualdade, nem dor ou sofrimento.
Racismo, discriminação, arrependimento ou humilhação constariam no dicionário como desusados arcaísmos.
Claro que, na mesma categoria, constariam também o branco, o preto, o azul, o amarelo, o verde e o vermelho.
E ficaríamos apenas com o cinzento para pintar o dia-a-dia.
E se fossemos todos assim? Todos livres, todos iguais ?
E se todos quisessemos mais, por sabermos que todos poderíamos ter?
Então não haveria desigualdade, nem dor ou sofrimento.
Racismo, discriminação, arrependimento ou humilhação constariam no dicionário como desusados arcaísmos.
Claro que, na mesma categoria, constariam também o branco, o preto, o azul, o amarelo, o verde e o vermelho.
E ficaríamos apenas com o cinzento para pintar o dia-a-dia.
Tu
Vivias contente, orgulhoso de ti.
Atravessavas os dias com a poeira nos olhos,
mas com aquela resolução que só têm os que já viveram.
E tu viveste.
Experimentaste as grandes paixões,
os derradeiros desafios,
as provas mais duras,
os infindáveis fins de tarde.
E sorrias, sorrias sempre, pelo menos na minha lembrança.
Mesmo quando não sabias o porquê de sorrir.
Por dentro, sempre a mesma convicção.
Até ao fim, a mesma crença no mundo que tão bem conhecias.
Eras amigo, pai, irmão e filho de alguém.
A todos fazias falta, com todos te sentias bem.
Quando morreste, só eles te lembraram.
Porém, aqueles que te julgaram, ameaçaram, amaram ou invejaram, lançaram-te o pó para a eternidade.
Atravessavas os dias com a poeira nos olhos,
mas com aquela resolução que só têm os que já viveram.
E tu viveste.
Experimentaste as grandes paixões,
os derradeiros desafios,
as provas mais duras,
os infindáveis fins de tarde.
E sorrias, sorrias sempre, pelo menos na minha lembrança.
Mesmo quando não sabias o porquê de sorrir.
Por dentro, sempre a mesma convicção.
Até ao fim, a mesma crença no mundo que tão bem conhecias.
Eras amigo, pai, irmão e filho de alguém.
A todos fazias falta, com todos te sentias bem.
Quando morreste, só eles te lembraram.
Porém, aqueles que te julgaram, ameaçaram, amaram ou invejaram, lançaram-te o pó para a eternidade.
Ilusão
Viu, olhou, tornou a olhar e nem queria acreditar!
Era ela, era mesmo ela que estava ali.
Depois da indignidade que a roubara para sempre da sua vida, ela estava ali, tão perto, tão alcançável e mais bonita do que a imaginação lembrava.
Hesitou por segundos, mas a vontade calou o medo e ele aproximou-se quase sem querer.
Haveria de lhe tocar, chamá-la pelo nome, acenar-lhe como se apenas há um dia não a visse?
Esperou, esperou, olhou, voltou a olhar e... não a viu mais!
Aquela era a marca que deixara, a condição que impusera.
"Se algum dia me vires, nunca mais me verás e menos ainda me terás..."
Era ela, era mesmo ela que estava ali.
Depois da indignidade que a roubara para sempre da sua vida, ela estava ali, tão perto, tão alcançável e mais bonita do que a imaginação lembrava.
Hesitou por segundos, mas a vontade calou o medo e ele aproximou-se quase sem querer.
Haveria de lhe tocar, chamá-la pelo nome, acenar-lhe como se apenas há um dia não a visse?
Esperou, esperou, olhou, voltou a olhar e... não a viu mais!
Aquela era a marca que deixara, a condição que impusera.
"Se algum dia me vires, nunca mais me verás e menos ainda me terás..."
domingo, 28 de janeiro de 2007
Compromisso
As mulheres eram, na vida dele, uma constante.
Lembrava-se delas de sempre e nem sabia se eram uma benção ou maldição.
Amantes, amigas, apaixonadas, traídas, despeitadas, animadas, despudoradas, loucas e tresloucadas.
Tantas conhecera e a tantas decepcionara! Mas, pelo caminho, a muitas amara, a um sem número deixara, a outras tantas contara o que por elas sentia.
E elas não desapareciam, não o deixavam, não lhe perdoavam o esquecimento, a indiferença, a insegurança, o desamor.
Homem de mulheres, era assim que se sentia. Espartilhado, dividido, já não sabia quem era, antes de saber o que sentia, a quem pertencia.
Alinhava-as, comparava-as, confrontava-as e não deixava de as amar, a todas!
Mas todas queriam mais, pois se a uma mulher não basta sentir-se amada, ela tem de saber-se única, excepcional, inconfundível, insubstituível e não apenas mais uma.
As Anas, as Marias, as Teresas e as Cristinas querem saber-se exclusivas no universo cibernético, no meio apenas de amigOs na agenda do telemóvel.
Únicas nos sonhos, singelas nos planos para o futuro.
Mas ele não era capaz, isso não podia garantir nunca!
Demasiado habituado à sua presença, não podia abandoná-las, nem aquelas que, amarguradas, o tinham abandonado há tanto tempo que a lembrança não lembrava mais.
Era, como na "Insustentável Leveza do Ser", um homem de mulheres, para as mulheres e entre mulheres. Para sempre!
A elas se tinha entregado desde que a mãe o segurou pela primeira vez no colo.
E esse compromisso era capaz de assumir: ser de todas até ao fim dos seus dias!
Só esse, nenhum mais.
É que, ao contrário das mulheres, compromissos sérios só conseguia manter um!
Lembrava-se delas de sempre e nem sabia se eram uma benção ou maldição.
Amantes, amigas, apaixonadas, traídas, despeitadas, animadas, despudoradas, loucas e tresloucadas.
Tantas conhecera e a tantas decepcionara! Mas, pelo caminho, a muitas amara, a um sem número deixara, a outras tantas contara o que por elas sentia.
E elas não desapareciam, não o deixavam, não lhe perdoavam o esquecimento, a indiferença, a insegurança, o desamor.
Homem de mulheres, era assim que se sentia. Espartilhado, dividido, já não sabia quem era, antes de saber o que sentia, a quem pertencia.
Alinhava-as, comparava-as, confrontava-as e não deixava de as amar, a todas!
Mas todas queriam mais, pois se a uma mulher não basta sentir-se amada, ela tem de saber-se única, excepcional, inconfundível, insubstituível e não apenas mais uma.
As Anas, as Marias, as Teresas e as Cristinas querem saber-se exclusivas no universo cibernético, no meio apenas de amigOs na agenda do telemóvel.
Únicas nos sonhos, singelas nos planos para o futuro.
Mas ele não era capaz, isso não podia garantir nunca!
Demasiado habituado à sua presença, não podia abandoná-las, nem aquelas que, amarguradas, o tinham abandonado há tanto tempo que a lembrança não lembrava mais.
Era, como na "Insustentável Leveza do Ser", um homem de mulheres, para as mulheres e entre mulheres. Para sempre!
A elas se tinha entregado desde que a mãe o segurou pela primeira vez no colo.
E esse compromisso era capaz de assumir: ser de todas até ao fim dos seus dias!
Só esse, nenhum mais.
É que, ao contrário das mulheres, compromissos sérios só conseguia manter um!
VÍRUS
Apaga-me da tua memória RAM
Esquece o meu endereço IP
Faz DELETE a todos os ficheiros cuja extensão tenha o meu nome
Destrói as DISKETES e os CD's que eu tenha usado
Faz um SCAN ao teu DISCO RÍGIDO para detectar qualquer vestígio indesejado
Bloqueia-me no MSN e finge que eu não existo!
Trata-me como acreditas que sou:
um VÍRUS invasor que insiste em destruir-te o SISTEMA OPERATIVO!
Esquece o meu endereço IP
Faz DELETE a todos os ficheiros cuja extensão tenha o meu nome
Destrói as DISKETES e os CD's que eu tenha usado
Faz um SCAN ao teu DISCO RÍGIDO para detectar qualquer vestígio indesejado
Bloqueia-me no MSN e finge que eu não existo!
Trata-me como acreditas que sou:
um VÍRUS invasor que insiste em destruir-te o SISTEMA OPERATIVO!
Grávida de amor
Sofrer por amor é um estado de graça!
Fica-se grávida de sentimentos, anseia-se o momento em que, finalmente, o desamor nasce, juntamente com a indiferença, gémeos de sofrimento.
As dores recusam-se a partir, as noites mal dormidas vêm para ficar, o peso da mágoa suportada é um fardo para o coração.
E, no entanto, vive-se a gravidez de forma intensa e é como se às vezes não quiséssemos que o mal estar desapareça.
Quando se engravida assim, não se pode abortar o amor!
Fica-se grávida de sentimentos, anseia-se o momento em que, finalmente, o desamor nasce, juntamente com a indiferença, gémeos de sofrimento.
As dores recusam-se a partir, as noites mal dormidas vêm para ficar, o peso da mágoa suportada é um fardo para o coração.
E, no entanto, vive-se a gravidez de forma intensa e é como se às vezes não quiséssemos que o mal estar desapareça.
Quando se engravida assim, não se pode abortar o amor!
Silêncio
Disse mas não ouviram, repeti, mas não me prestaram atenção.
Gritei e o meu grito fez eco, bateu num rochedo e voltou veloz, a estalar-me a cara.
Chorei de desapontamento e ninguém me consolou.
Só a noite comigo andava, só o frio vinha para me acompanhar, aqui, no silêncio...
Gritei e o meu grito fez eco, bateu num rochedo e voltou veloz, a estalar-me a cara.
Chorei de desapontamento e ninguém me consolou.
Só a noite comigo andava, só o frio vinha para me acompanhar, aqui, no silêncio...
A minha rua mágica
Da minha rua vê-se o Sol!
Da minha janela avista-se o dia que corre e a noite que não chega.
Na minha rua cantam os pardais, na minha janela fazem os ninhos.
Na minha rua passa quem quer e da minha janela vejo quem passa.
Corre o boato, na minha rua, que as outras ruas são iguais, mas avisto-as da minha janela e vejo que não são.
Na minha rua tudo evolui com determinação, da minha janela todos parecem convictos que esta é a melhor das ruas!
Da minha janela avista-se o dia que corre e a noite que não chega.
Na minha rua cantam os pardais, na minha janela fazem os ninhos.
Na minha rua passa quem quer e da minha janela vejo quem passa.
Corre o boato, na minha rua, que as outras ruas são iguais, mas avisto-as da minha janela e vejo que não são.
Na minha rua tudo evolui com determinação, da minha janela todos parecem convictos que esta é a melhor das ruas!
Rissol
Haverá coisa mais portuguesa do que um rissol? Concerteza que sim, mas eu insisto!
Haverá coisa mais genuinamente portuguesa do que um rissol?
Quantos cafés e confeitarias conhecem que não tenham sempre rissóis?
De manhã, de tarde, à noite.
Beber um whisky ou comer uma feijoada logo pela manhã é coisa estranha, mas nunca a ninguém estranhou cobiçar o rissolzito logo bem cedo, ao pequeno-almoço, antes da refeição principal, durante a tarde ou mesmo antes de ir dormir.
O verdadeiro rissol é, como todos sabem, o rissol de carne. Eu, pelo menos, nunca ouvi ninguém dizer que prefere os de marisco aos de carne!
Frutos da modernidade são os de bacalhau ou de queijo e fiambre, variantes que nunca destronarão o verdadeiro rissol.
E, de repente, estou na Império, na baixa, lugar onde se comem os melhores rissóis de carne da cidade do Porto, quiçá, do país!
Que digo eu?! Do mundo!!!
Haverá coisa mais genuinamente portuguesa do que um rissol?
Quantos cafés e confeitarias conhecem que não tenham sempre rissóis?
De manhã, de tarde, à noite.
Beber um whisky ou comer uma feijoada logo pela manhã é coisa estranha, mas nunca a ninguém estranhou cobiçar o rissolzito logo bem cedo, ao pequeno-almoço, antes da refeição principal, durante a tarde ou mesmo antes de ir dormir.
O verdadeiro rissol é, como todos sabem, o rissol de carne. Eu, pelo menos, nunca ouvi ninguém dizer que prefere os de marisco aos de carne!
Frutos da modernidade são os de bacalhau ou de queijo e fiambre, variantes que nunca destronarão o verdadeiro rissol.
E, de repente, estou na Império, na baixa, lugar onde se comem os melhores rissóis de carne da cidade do Porto, quiçá, do país!
Que digo eu?! Do mundo!!!
Shakira
Uma insinuação, um olhar, um toque leve e subtil.
A voz rouca, sensual.
O corpo novo, firme e disponível.
A pele macia e bronzeada, sem marca ou imperfeição.
Sonha com o dia em que, frente ao espelho, se transforma. Num ídolo, num ícone, numa obsessão colectiva ou doença juvenil para a qual ainda não foi inventada cura.
E sonha, não deixa de sonhar. E dança, não pára de dançar, num movimento insinuoso e demorado, como se o mundo inteiro estivesse pendente desse gesto...
A voz rouca, sensual.
O corpo novo, firme e disponível.
A pele macia e bronzeada, sem marca ou imperfeição.
Sonha com o dia em que, frente ao espelho, se transforma. Num ídolo, num ícone, numa obsessão colectiva ou doença juvenil para a qual ainda não foi inventada cura.
E sonha, não deixa de sonhar. E dança, não pára de dançar, num movimento insinuoso e demorado, como se o mundo inteiro estivesse pendente desse gesto...
Cigarrilha de baunilha
Acendo uma cigarrilha e, ao puxar suavemente o primeiro trago, recosto-me para trás na cadeira.
Fico a olhar para os outros, indiferente a tudo, menos àquela cigarrilha.
Juntas dançamos um tango, rodopiamos pelo salão voluptuosas, arrojadas, aromáticas.
O odor a baunilha inebria os meus sentidos e prossigo inspirando o doce prazer.
Faço contas de cabeça, revejo planos antigos, olho as pessoas nas suas pequenas desgraças e tudo me parece tão distante, tão sem sentido!
Só eu e aquela cigarrilha existimos e somos reais...
Fico a olhar para os outros, indiferente a tudo, menos àquela cigarrilha.
Juntas dançamos um tango, rodopiamos pelo salão voluptuosas, arrojadas, aromáticas.
O odor a baunilha inebria os meus sentidos e prossigo inspirando o doce prazer.
Faço contas de cabeça, revejo planos antigos, olho as pessoas nas suas pequenas desgraças e tudo me parece tão distante, tão sem sentido!
Só eu e aquela cigarrilha existimos e somos reais...
A lâmpada de Aladino
Encontrei o génio, ao tropeçar na lâmpada, como acontece em todas as boas histórias (e esta é apenas mais uma).
Ao ver-me tão surpreendida, o génio perguntou:
"Que raio queres?!"
Eu, intrigada, respondi:
"Os desejos a que tenho direito!"
E ele, gozão:
"Desejos?! Está bem! Deseja pr'aí! Pode ser que tropeces numa lâmpada..."
Ao ver-me tão surpreendida, o génio perguntou:
"Que raio queres?!"
Eu, intrigada, respondi:
"Os desejos a que tenho direito!"
E ele, gozão:
"Desejos?! Está bem! Deseja pr'aí! Pode ser que tropeces numa lâmpada..."
A máquina avariada
Sendo máquina, haveria de avariar!
E, se avariasse, teria garantia?
Avariando, cuspia palavras e pronunciava alimentos, odiava amando e amava batendo?! Dormia em pé e vivia deitada? Fungava rindo e ria chorando?
Um dia avariei. Quando chamaram o técnico, deu-me comprimidos e disse-me que estava esgotada!
Mas então, se as máquinas avariam, qual o interesse de ser uma?!
E, se avariasse, teria garantia?
Avariando, cuspia palavras e pronunciava alimentos, odiava amando e amava batendo?! Dormia em pé e vivia deitada? Fungava rindo e ria chorando?
Um dia avariei. Quando chamaram o técnico, deu-me comprimidos e disse-me que estava esgotada!
Mas então, se as máquinas avariam, qual o interesse de ser uma?!
Vergonha
O bicho da seda no seu casulo, o ouriço-cacheiro na sua carapaça, a avestruz com a cabeça na areia...
Sedução
Despedida
Parto com as lembranças, entrego-me ao sono e sonho o amor, a paixão desmedida, os amantes rendidos no leito da sedução.
Não quero acordar porque o calor é deliciosa quimera e a noite ainda mal começou...
Não quero acordar porque o calor é deliciosa quimera e a noite ainda mal começou...
quinta-feira, 25 de janeiro de 2007
Inspirado em Gedeão
Olho para o lado e pergunto
Afinal o que é oculto
O que forma tal conjunto
Do outro lado do mundo?
Morre de medo em contar
Quem conhece tal lugar
Pois esse lado lunar
É apenas tão vulgar
Como este lado do mundo.
Afinal o que é oculto
O que forma tal conjunto
Do outro lado do mundo?
Morre de medo em contar
Quem conhece tal lugar
Pois esse lado lunar
É apenas tão vulgar
Como este lado do mundo.
A conta
Pedi a conta e esperei, esperei dias, esperei horas e ela teimava em tardar.
Agitada, acenei ao empregado e repeti, "A conta por favor!"
Tentei distrair-me mas estava apressada, tinha o mundo à minha espera e a maldita conta não vinha!
"A conta?!" disse o empregado, com ar de engraçado.
"Vá descansada, hoje a vida é por conta da casa!"
Agitada, acenei ao empregado e repeti, "A conta por favor!"
Tentei distrair-me mas estava apressada, tinha o mundo à minha espera e a maldita conta não vinha!
"A conta?!" disse o empregado, com ar de engraçado.
"Vá descansada, hoje a vida é por conta da casa!"
Música
A música sobe de tom, reverbera pelas paredes.
Os corpos agitam-se, bate-se o pezinho, desaparece a neura, escondem-se os complexos, somem-se os preconceitos.
E a música, confiante, limita-se a tocar: os ouvidos, os sentidos, o coração.
E todos a ouvem e veneram, até que desaparece para tudo voltar ao antes.
O silêncio, os corpos parados, a neura a matar, os complexos a espreitar, os preconceitos a chegar.
Ponham uma moeda na Jukebox, already!!!
Os corpos agitam-se, bate-se o pezinho, desaparece a neura, escondem-se os complexos, somem-se os preconceitos.
E a música, confiante, limita-se a tocar: os ouvidos, os sentidos, o coração.
E todos a ouvem e veneram, até que desaparece para tudo voltar ao antes.
O silêncio, os corpos parados, a neura a matar, os complexos a espreitar, os preconceitos a chegar.
Ponham uma moeda na Jukebox, already!!!
À espera...
Enquanto te espero, sozinha, passa uma vida, gira o mundo à minha volta.
Nascem crianças, morrem homens feitos.
Matam-se mulheres, salvam-se homens desfeitos.
Amantes amam-se, mestres ensinam, discípulos aprendem.
Filosofa-se, toma-se café, lê-se o jornal, resolvem-se quebra-cabeças, fazem-se palavras cruzadas, descobrem-se charadas.
Pintam-se quadros, moldam-se corpos, corre-se à chuva, passeiam-se os cães.
E eu, sozinha, continuo à tua espera.
Alimentada pelo sonho de, no final da longa espera, enfim te ver...
Nascem crianças, morrem homens feitos.
Matam-se mulheres, salvam-se homens desfeitos.
Amantes amam-se, mestres ensinam, discípulos aprendem.
Filosofa-se, toma-se café, lê-se o jornal, resolvem-se quebra-cabeças, fazem-se palavras cruzadas, descobrem-se charadas.
Pintam-se quadros, moldam-se corpos, corre-se à chuva, passeiam-se os cães.
E eu, sozinha, continuo à tua espera.
Alimentada pelo sonho de, no final da longa espera, enfim te ver...
Corte de cabelo
"Corte!" - disse eu."Corte à vontade!"
E ela obedecia, indiferente às minhas dores, aos meus queixumes, à minha luta.
E, sempre com um sorriso, concentrava o olhar e a força na tesoura que, convicta, cortava.
"Corte, não tenha medo!" Ela entendia tão bem e cortava, cortava...
As costas deixavam de arquear, as mãos abriam-se, os músculos distendiam-se finalmente e eu enterrava-me mais fundo na cadeira.
"Corte! Mas deixe o sorriso comprido!"
E ela obedecia, indiferente às minhas dores, aos meus queixumes, à minha luta.
E, sempre com um sorriso, concentrava o olhar e a força na tesoura que, convicta, cortava.
"Corte, não tenha medo!" Ela entendia tão bem e cortava, cortava...
As costas deixavam de arquear, as mãos abriam-se, os músculos distendiam-se finalmente e eu enterrava-me mais fundo na cadeira.
"Corte! Mas deixe o sorriso comprido!"
Fazer de conta
Faço de conta que não vejo a tua indiferença.
Finjo que não sinto a tua distância.
Pretendo não sentir o teu desamor.
Ignoro que me dizes para me afastar.
Repito que não queres realmente dizer o que dizes, fazer o que fazes, olhar como olhas!
Mas, no fim da exaustão, quando tudo está perdido, faço de conta que nada é a sério e que ainda agora chegaste e vais começar...
Finjo que não sinto a tua distância.
Pretendo não sentir o teu desamor.
Ignoro que me dizes para me afastar.
Repito que não queres realmente dizer o que dizes, fazer o que fazes, olhar como olhas!
Mas, no fim da exaustão, quando tudo está perdido, faço de conta que nada é a sério e que ainda agora chegaste e vais começar...
Evidente
Achas evidente eu gostar de ti?!
Sentes evidente eu querer-te aqui?
Pensas "evidente" ela estar aqui?
Choras evidente não esperar por ti...?
Pois é evidente que eu gosto de ti.
É bem evidente e ela não mente, pois está aqui.
Choras consciente, se, evidente(mente), não espera por ti!
Sentes evidente eu querer-te aqui?
Pensas "evidente" ela estar aqui?
Choras evidente não esperar por ti...?
Pois é evidente que eu gosto de ti.
É bem evidente e ela não mente, pois está aqui.
Choras consciente, se, evidente(mente), não espera por ti!
Curta-metragem
Hoje fiz uma curta-metragem.
Filmei um épico que era, ao mesmo tempo, uma história de amor sem fim.
Realizei cavaleiros, damas, tramas, dramas e paixões.
Escolhi o melhor ângulo, construí o maior cenário e, com os melhores actores, encenei.
No fim, frente à obra prima, o susto calou um grito!
Tinha filmado a vida! Focado e desfocado com lentes potentes as cenas de uma cena real. Misturado efeitos especiais e retirado efeitos secundários.
Hoje fiz uma curta-metragem.
Filmei um épico que era, ao mesmo tempo, uma história de amor sem fim.
Realizei cavaleiros, damas, tramas, dramas e paixões.
Escolhi o melhor ângulo, construí o maior cenário e, com os melhores actores, encenei.
No fim, frente à obra prima, o susto calou um grito!
Tinha filmado a vida! Focado e desfocado com lentes potentes as cenas de uma cena real. Misturado efeitos especiais e retirado efeitos secundários.
Hoje fiz uma curta-metragem.
Palavra Só!
Um simples devaneio "literário"... Palavra!
Era uma vez uma palavra que vivia só, terrivelmente só! Não percebia como era possível encontrar-se tão só num universo de folhas tão vasto, como há pouco tinha visto que era o seu, num documentário na televisão. Eram folhas e folhas naquele bloco conhecido e desconhecido, até aos confins das argolas que o rematavam ! Como podia então não haver outras palavras, só ela, palavra!? Palavra que era estranho e triste, pois ansiava encontrar-se com outras, trocar significados, nem que fossem antónimos. Fazer metáforas era o seu sonho, participar em hipérboles o seu anseio, mas como poderia, se estava tão só?!
Ela palavra, palavra, de folha em folha, mas nunca via uma igual, só o vazio da folha. E palavra um pouco mais, persistente, mas ninguém escrevia, ninguém falava! E assim, palavra cada vez menos ao percorrer folhas imaculadas nas quais deixava a sua mancha.
Queria formar outras palavras, legar a sua herança, com medo que a simples existência naquele universo de folhas por escrever, de histórias por contar, não fosse suficiente para a saberem soletrar ou mesmo memorizar.
Um dia, quando nada o faria prever, ao transitar de uma folha para outra, avistou algo... um risco! Ainda pensou que pudesse ser uma palavra mal acabada, escrita à pressa, mas não, não passava de um risco! Um risco que não falava, não significava nada, não se podia traduzir! Um risco apenas! E ela que desejou tanto ver ao menos um risco por aquelas folhas em que deambulava, perdida, apenas um risco... Ainda assim, deixou-se estar à espera de mais, talvez quem o fez voltasse e desenhasse uma palavra! Assim, permaneceu, parada mas inquieta, por muitas e muitas folhas, tantas que a serem escritas equivaliam já a capítulos inteiros!
Até que um dia, incomodada, deu por si a amar aquele risco! Aquele risco que não falava, não tinha significado, não constava no dicionário. Como ele não falasse, nem consentisse ou deixasse de o fazer, tomou a iniciativa de começar a namorá-lo e, mais tarde, pediu-lhe para casar. Ao que ele assentiu, sem dizer palavra! Ela não desistiu e, pouco tempo depois, estava grávida! Uma palavrinha vinha a caminho! Uma palavrinha, depois de tantas folhas sozinha! A emoção era muita e nem o facto de a pequena palavra nascer rasurada, pelas semelhanças com o pai, lhe tirou o sorriso. As folhas começaram a povoar-se de inúmeras palavras, pois se ela, palavra, era uma procriadora, apenas comparável às cerejas, e o pai nem opinava! Palavras diferentes entre si, mas sempre com uma marca inconfundível: todas rasuradas! Depressa se encheu um caderno de palavras rasuradas que, de tantos riscos, não deixavam que ninguém as lesse.
Um dia, alguém encontrou o caderno e, olhando estupefacto para tantas rasuras, achou que o autor das palavras já não o queria, ou estava profundamente arrependido do que escrevera e, por isso, as rasurara.Pensando que tudo aquilo não passava de um erro, e não de uma obra da Mãe-Literatura, deitou fora o caderno! Ecológico como era, livrou-se dele no Ecoponto e, finalmente, a palavra pôde conviver com outras, escritas em inúmeras outras folhas, à mão e à máquina, com tantas histórias para contar! Percebeu assim que não estava só, antes fazia parte de um enredo que tinha lugar noutras galáxias de folhas longínquas, agora aproximadas por um (in)feliz acaso.
Palavra de honra que esta história é real! Palavra!!!
Era uma vez uma palavra que vivia só, terrivelmente só! Não percebia como era possível encontrar-se tão só num universo de folhas tão vasto, como há pouco tinha visto que era o seu, num documentário na televisão. Eram folhas e folhas naquele bloco conhecido e desconhecido, até aos confins das argolas que o rematavam ! Como podia então não haver outras palavras, só ela, palavra!? Palavra que era estranho e triste, pois ansiava encontrar-se com outras, trocar significados, nem que fossem antónimos. Fazer metáforas era o seu sonho, participar em hipérboles o seu anseio, mas como poderia, se estava tão só?!
Ela palavra, palavra, de folha em folha, mas nunca via uma igual, só o vazio da folha. E palavra um pouco mais, persistente, mas ninguém escrevia, ninguém falava! E assim, palavra cada vez menos ao percorrer folhas imaculadas nas quais deixava a sua mancha.
Queria formar outras palavras, legar a sua herança, com medo que a simples existência naquele universo de folhas por escrever, de histórias por contar, não fosse suficiente para a saberem soletrar ou mesmo memorizar.
Um dia, quando nada o faria prever, ao transitar de uma folha para outra, avistou algo... um risco! Ainda pensou que pudesse ser uma palavra mal acabada, escrita à pressa, mas não, não passava de um risco! Um risco que não falava, não significava nada, não se podia traduzir! Um risco apenas! E ela que desejou tanto ver ao menos um risco por aquelas folhas em que deambulava, perdida, apenas um risco... Ainda assim, deixou-se estar à espera de mais, talvez quem o fez voltasse e desenhasse uma palavra! Assim, permaneceu, parada mas inquieta, por muitas e muitas folhas, tantas que a serem escritas equivaliam já a capítulos inteiros!
Até que um dia, incomodada, deu por si a amar aquele risco! Aquele risco que não falava, não tinha significado, não constava no dicionário. Como ele não falasse, nem consentisse ou deixasse de o fazer, tomou a iniciativa de começar a namorá-lo e, mais tarde, pediu-lhe para casar. Ao que ele assentiu, sem dizer palavra! Ela não desistiu e, pouco tempo depois, estava grávida! Uma palavrinha vinha a caminho! Uma palavrinha, depois de tantas folhas sozinha! A emoção era muita e nem o facto de a pequena palavra nascer rasurada, pelas semelhanças com o pai, lhe tirou o sorriso. As folhas começaram a povoar-se de inúmeras palavras, pois se ela, palavra, era uma procriadora, apenas comparável às cerejas, e o pai nem opinava! Palavras diferentes entre si, mas sempre com uma marca inconfundível: todas rasuradas! Depressa se encheu um caderno de palavras rasuradas que, de tantos riscos, não deixavam que ninguém as lesse.
Um dia, alguém encontrou o caderno e, olhando estupefacto para tantas rasuras, achou que o autor das palavras já não o queria, ou estava profundamente arrependido do que escrevera e, por isso, as rasurara.Pensando que tudo aquilo não passava de um erro, e não de uma obra da Mãe-Literatura, deitou fora o caderno! Ecológico como era, livrou-se dele no Ecoponto e, finalmente, a palavra pôde conviver com outras, escritas em inúmeras outras folhas, à mão e à máquina, com tantas histórias para contar! Percebeu assim que não estava só, antes fazia parte de um enredo que tinha lugar noutras galáxias de folhas longínquas, agora aproximadas por um (in)feliz acaso.
Palavra de honra que esta história é real! Palavra!!!
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Querer...
Porque é que não queres tanto como eu quero?
Insisto, impaciente...
Porque é que não queres tanto como eu quero?
Olhas, desanimado, sem saber muito bem do que falo e porque é que, de repente, os olhos se me ensombram e a cara se me fecha.
E, subitamente, vem-me à memória António Gedeão.
"Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes."
E volto à carga.
Porque é que não queres tanto como eu quero?!
Inútil querer que queiras
aquilo que só eu quero!
Insisto, impaciente...
Porque é que não queres tanto como eu quero?
Olhas, desanimado, sem saber muito bem do que falo e porque é que, de repente, os olhos se me ensombram e a cara se me fecha.
E, subitamente, vem-me à memória António Gedeão.
"Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes."
E volto à carga.
Porque é que não queres tanto como eu quero?!
Inútil querer que queiras
aquilo que só eu quero!
Não sei...
Se fique nesta dimensão,
se parta sem destino para um mundo que não conheço nem anseio e me empurra para o vazio.
Se diga ou se cale, se engula ou cuspa o pó que se entranha,
se olhe ou finja não ver.
Se leia ou esqueça as letras do alfabeto.
Se pense ou deixe o cérebro flutuar.
Se durma ou acorde na noite fria.
Se tape ou destape a pessoa amada.
Se a olhe nos olhos ou ignore, tapada.
se parta sem destino para um mundo que não conheço nem anseio e me empurra para o vazio.
Se diga ou se cale, se engula ou cuspa o pó que se entranha,
se olhe ou finja não ver.
Se leia ou esqueça as letras do alfabeto.
Se pense ou deixe o cérebro flutuar.
Se durma ou acorde na noite fria.
Se tape ou destape a pessoa amada.
Se a olhe nos olhos ou ignore, tapada.
O Livro Amarelo (2)
Ok, ok, esqueçam a história do Livro Amarelo! Mudei de ideias quanto à reclamação!
Hoje quero mesmo é dar os parabéns à gerência. Quem concebeu, desenhou e projectou (o arquitecto, talvez?!) percebe umas coisas da vida e sabe o que é que as pessoas precisam.
Afinal, a coisa está mesmo bem organizada: depois de uma situação má, depois de momentos negativos, depois do sofrimento e da famosa tempestade, eis que surgem uns raios de sol capazes de iluminar o coração até do mais desesperado e pessimista!
Obrigada, do fundo do meu "amachucadito" coração...
Hoje quero mesmo é dar os parabéns à gerência. Quem concebeu, desenhou e projectou (o arquitecto, talvez?!) percebe umas coisas da vida e sabe o que é que as pessoas precisam.
Afinal, a coisa está mesmo bem organizada: depois de uma situação má, depois de momentos negativos, depois do sofrimento e da famosa tempestade, eis que surgem uns raios de sol capazes de iluminar o coração até do mais desesperado e pessimista!
Obrigada, do fundo do meu "amachucadito" coração...
O Livro Amarelo
É urgente, preciso de fazer uma reclamação!
Minuto (ou pensamento circular... 3)
Suspensos num minuto ficamos os dois após o calor do beijo. O olhar profundo e a vontade de recomeçar desmesurada.
Tínhamos o sabor e os cheiros, o toque e a pele tocada.
Não sabíamos o que dizer ou se necessário seria dizer fosse o que fosse.
E assim continuamos, na esperança de retomar o momento preciso em que ficamos suspensos num minuto...
Tínhamos o sabor e os cheiros, o toque e a pele tocada.
Não sabíamos o que dizer ou se necessário seria dizer fosse o que fosse.
E assim continuamos, na esperança de retomar o momento preciso em que ficamos suspensos num minuto...
Escrita ou Pensamento circular... (2)
Escrevo e, ao ler-me, apercebo-me de que aquilo que escrevo não passa de uma infinidade de jogos de palavras, de brincadeiras com as letras, desenhadas no papel.
Ainda assim, divirto-me! Por isso escrevo e, ao ler-me...
Ainda assim, divirto-me! Por isso escrevo e, ao ler-me...
Pensamento circular...
A vida é um filme
Passa todos os dias na televisão e, sem intervalos, cola-me ao ecrã.
Indiferente, assisto serena, sentada no sofá. De vez em quando, mudo de canal.
A vida dá sempre em directo e, se me distraio, perco episódios!
Indiferente, assisto serena, sentada no sofá. De vez em quando, mudo de canal.
A vida dá sempre em directo e, se me distraio, perco episódios!
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